Para
falar de ELIPHAS LEVI precisamos primeiro buscar entender a alma do mestre.
Minha
intenção com esta reflexão sobre ELIPHAS LEVI não é desvendar os mistérios das
suas obras, mas dar sentido ao seu trabalho e compreender o seu significado
para nossa ordem.
Estudando
Eliphas Levi, com a mente aberta e investigativa, podemos compreender melhor os
degraus de nossa ordem e a importância de cada mestre.
Cada
um de nós nasce sob o domínio de um plano e nele aprende a maior parte dos
ensinamentos e desenvolve suas habilidades. Podemos desenvolver nossas
habilidades em outros planos, mas muitas vezes são necessárias várias etapas
para passarmos de um plano a outro, e nossos corpos são constituídos de forma a
vivermos melhor as experiências no plano em que estamos aprendendo. O
aprofundamento na astrologia e numerologia pode nos ajudar a entender estes
diversos planos e suas características.
Nossa
escola tem acento para todos os planos, e não identifica os seus alunos, mas
ensina a cada um a reconhecer-se para que cada um dirija seus estudos de acordo
com suas necessidades de aprendizado.
Eliphas
Levi é o Mestre do Plano Psíquico, que une o mental abstrato e o emocional, e
para entende-lo precisamos de alguma forma transitar neste misterioso mundo da
mente inconsciente.
Sabemos
que nosso cérebro tem dois hemisférios, o esquerdo e o direito. O Esquerdo é
domínio das coisas sequenciais, logicas e analíticas, o que chamamos de Razão,
que representa o princípio masculino.
O
Cérebro direito cuida dos assuntos sistêmicos e sensitivos, não lineares e nos
conecta com a nossa parte mais profunda do inconsciente e representa o
princípio feminino.
Nossa
busca maior é pela harmonia destes contrários, para que trabalhando em estreita
cooperação, tenhamos percepção de uma nova dimensão, a dimensão da mente Superconsciente.
O
Mestre Prentice Mulford nos ensina a desenvolver a mente concreta e nos prepara
para obter certo domínio, equilibrando nossas forças internas.
Eliphas
Levi, entretanto, nos ensina a voar nos domínios da mente abstrata, da
linguagem não linear, da realidade mais profunda do nosso ser, o domínio
daquilo que chamamos alma.
Para
permanecer no domínio psíquico é preciso ter ligação com as duas metades, a
racional e a psíquica, pois o emotivo pode se perder nos mares do inconsciente
e ser presa fácil, e o racional, não chega nem perto destes mares, e permanece
na superfície.
Tentar
entender Eliphas Levi com a mente racional e sequencial é pura perda de tempo.
Para ler suas obras é preciso abandonar o sentido logico, ser guiado pela
intuição, seguir pelo caminhos do inconsciente.
Se
Prentice Mulford nos ensina a pintar cercas, Eliphas levi nos ensina a
hipnotizar a serpente.
Mas
é no domínio de Eliphas Levi, o mundo psíquico, que se aprende a dar grande
valor a obra do Mestre Prentice Mulford, pois a ancora da mente concreta será
necessária para manter o barco seguro nas ondas agitadas do mar psíquico.
Quem
não aprendeu esta lição não deve jamais entrar nestes mares, sob o risco de ser
afogado por ele.
Diante
da mente abstrata, guiada pelo Mestre da Magia, os símbolos ganham vida e
sentido, conectando suas múltiplas dimensões, que só se revelam a mente
habilidosa que sabe navegar nestes mares.
A
chave dos grandes Mistérios não se encontra no domínio da mente racional.
O
Mestre sacia a sede daqueles que desejam acessar os mistérios, mas alerta
sempre o sentido de sua real utilidade pratica e os perigos das armadilhas
deste mundo onde o bem e o mal se confundem e se entrelaçam e o aventureiro incauto
tem mais chances de se perder do que seguir adiante.
O
Mestre fala a linguagem psíquica e a ousadia de suas palavras provem da
compreensão errada por parte das mentes puramente racionais. Por isso ele foi
preso muitas vezes por ofender a fé, justamente ele, o maior defensor do
verdadeiro espirito católico.
Embora
não tenha a pretensão de fazer um resumo da obra do mestre, transcrevo abaixo
algumas pérolas, para iluminar a compreensão de sua alma.
“Deus é aquilo que aprendemos a conhecer
eternamente. É por conseguinte, o que nunca saberemos.
“A fé não pode ser oposta a razão, ela é
necessitada pelo amor, é idêntica à esperança. Amar é crer e esperar, e este
tríplice impulso da alma é chamado de virtude, porque é preciso coragem para fazê-lo.
Mas haveria coragem nisso, se não fosse possível a dúvida? Ora, poder duvidar é
duvidar. A dúvida é a força equilibrante da fé e faz todo o seu mérito...
Raciocinar
sobre a fé é delirar, porque o objeto da fé está fora da razão. Se me perguntarem:
Há um Deus? Respondo: Creio-o. Mas
estais certo disso? – Se tivesse certo disso, não creria, sabê-lo-ia.
A fé
começa onde a ciência acaba.
Não
se pode adivinhar o desconhecido e não ser pelas suas proporções supostas e que
podem supor com o conhecido.
A
analogia era o dogma único dos antigos magos.
Dogma
verdadeiramente mediador, porque é meio cientifico, meio hipotético, meio razão
e meio poesia.
“Não
é para o direito que devemos tudo ousar, é para o dever.
É o
dever que é a expressão e o gozo da liberdade; o direito isolado é o pai da
servidão.
O
dever é o devotamento, o direito é o egoísmo.
O
dever é o sacrifício, o direito é a rapina e o roubo.
O
dever é o amor, o direito é o ódio.
O
dever é a vida infinita, o direito é a morte eterna.
Se é
preciso combater para a conquista do direito, é para adquirir o poder do dever;
e para que, pois, seríamos livres, senão para amar, nos devotar e assim nos
assemelharmos a Deus?”
Se é
pois preciso infringir a lei, é quando ela prende o amor pelo medo.
Aquele
que quer salvar sua alma, perdê-la-á, diz o livro sagrado, e aquele que
consentir em perde-la salvá-la-á.
Ó
homem, dize-me o que tu esperas, e eu te direi o quanto vales.
Tu
oras, tua jejuas, tu vigias e crês que assim escaparás só ou quase só da perda
imensa dos homens devorados por um Deus cioso ?
Tu
és um hipócrita e um ímpio.
Tu
estás pronto a sofrer como os outros e pelos outros, e esperas a salvação de
todos; Tu és um sábio e um justo.
Esperar
não é ter medo.
Ter
medo de Deus! Que Blasfêmia!
O
ato de esperança é a oração.
A oração
é a expansão da alma na sabedoria e no amor eternos.
Oremos
em silêncio e levantemos para o Pai desconhecido um olhar de confiança e de
amor; aceitemos com fé e resignação a parte que nos dá nas penas da vida, e
todas as palpitações do nosso coração serão palavras de oração.
Se o
coração do homem concentra em si mesmo o fogo com que Deus o anima, torna-se um
inferno que devora a si mesmo e se enche de cinzas; se o faz irradiar para
fora, torna-se um agradável sol de amor.
O
menos perfeito dos atos de amor vale mais que a melhor palavra de piedade.
Orar
conjuntamente é comungar na mesma fé e na mesma caridade.
O
sinal nada é por si mesmo: é a fé que o santifica.
Deus
dá sua onipotência ao amor. Gosta de triunfar do ódio, mas vomita a frieza.
Há
um homem mais forte do que aquele que mata, é aquele que morre para salvar.
É
preciso amar a Deus e não temer Cézar. Porque foi dito no livro sagrado: Aquele
que fere com a espada, perecerá pela espada.
Quereis
ser bons, sede Justos. Quereis ser justos, sede livres!
Os
vícios que fazem o homem semelhante ao bruto, são os primeiros inimigos de sua
liberdade.
Olhai
o bêbado e me dizeis se este bruto imundo pode ser livre!
O
homem que faz o mal é como um vaso que quebrar-se-á, a fatalidade o quer.
Com
o fragmento dos mundos, Deus refaz as estrelas, com o fragmento das almas faz
os anjos.
Aquele
que procura a origem do mal, procura de onde vem o que não existe.
O
mal é o apetite desordenado do bem, é o ensaio infrutífero duma vontade inábil.
Cada
qual possui o fruto de suas obras, e a pobreza é simplesmente o aguilhão do
trabalho.
Para
o rebanho dos homens, o sofrimento é como o cão do pastor que morde a lã das
ovelhas para pô-las no caminho.
É
por causa da sombra que podemos ver a luz; é por causa do frio que sentimos
calor; é por causa do sofrimento que somos sensíveis ao prazer.
O
mal é, pois, para nós a ocasião e o começo do bem.
A
Bíblia não é uma história, é uma coleção de poemas, é um livro de alegorias e
imagens. Quando os sábios
antigos queriam ensinar, criavam histórias.
Mulher, dizia o Salvador à
Samaritana, em verdade te digo que tempo virá em que os homens não adorarão
mais a Deus nem em Jerusalém nem nesta montanha, porque Deus é espírito, e seus
verdadeiros adoradores devem servi-lo em espirito e verdade.
O direito é a propriedade, a
troca é a necessidade; a boa-fé é o dever.
Aquele que quer receber mais
do que dá, ou quer receber sem dar, é um ladrão.
O
Domínio do mistério é pois, um campo aberto às conquistas da inteligência.
Pode-se caminhar nele com ousadia e nunca a sua extensão será diminuída;
mudar-se-á somente de horizontes.
Tudo
saber é sonho do impossível, mas infeliz é quem não ousa tudo aprender e não
sabe que, para aprender alguma coisa, é preciso resignar-se a estudar sempre.
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