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A ESCRAVIDÃO DO MEDO

 A ESCRAVIDÃO DO MEDO



A MAIS comum e, todavia, a menos conhecida de todas as formas de escravidão é aquela em que nos sentimos dominados pelos pensamentos ou idéias que nos rodeiam e no meio das quais vivemos. Pode acontecer estarmos a serviço de alguém, e, nesse caso, é natural que façamos todo o possível para merecer o nosso salário; mas, apesar disso, nos sentiremos, talvez, conti- nuamente perturbados com o receio de não cumprirmos o nosso dever a contento dos nossos superiores e de podermos ser despedidos de um momento para outro, vivendo, assim, empolgados pelo constante temor de cair na miséria, se ficarmos sem trabalho, ou de nos vermos obrigados a prosseguir a luta pela existência em piores condições.
A razão dessas desagradáveis idéias está em que algum ser mental exerce a sua ação sobre o nosso próprio ser. Há alguém que nos é hostil, inimigo nosso, sentimos pesar sobre nós a influência das suas idéias, contrárias aos nossos interesses, embora não tenhamos a clara noção disso. Há muitas pessoas no mundo atual que vivem sob o domínio de mentalidades inferiores, delas dependem e pensam como elas a vida inteira, recebendo igualmente delas, idéias, inspirações e até força espiritual, embora inconscientemente. Sucede isto porque - não nos cansaremos de o repetir - o pensamento é uma substância, e esta substância, ao ser emitida por uma só mentalidade, é absorvida por outras. Sucede freqüentemente que a pessoa assim dominada ou atuada é de mentalidade superior; tanto assim é que, se se vê obrigada a mudar de patrão, por se ver injusta e tiranicamente tratada, sentirá logo esse antigo patrão que perdeu um dos seus mais valiosos auxiliares.

Não obstante, anos após anos, viverá essa inteligência superior em luta perene e na escravidão e dependência, dando as suas idéias aos demais e vendo sempre como são imperfeitamente realizadas.

É este o maior dos obstáculos e o que mais acorrenta o espírito. Em tais condições, é materialmente impossível a realização da obra de iniciativa própria e pessoal e nem podem ser exteriorizados os pensamentos e desígnios que, espontaneamente, surgirem em nossa mente. Também podemos ver-nos em grandes apuros para executar o pensamento de outra pessoa, quando ela não tem uma idéia nítida do que deseja realizar.

É este um dos maiores sofrimentos de quem vive na dependência de outrem, e se por acaso não temos, neste mundo, outra mira ou aspiração do que a de estar ao serviço de alguém, em troca de um salário em paga, é certo que, mais ou menos, sentiremos pesar sobre nós esse enorme fardo. É, porém, também certo que não será menos custoso o cumprir-se com essa obrigação do que operar por nossa própria conta, embora a princípio encontremos certa dificuldade nisso.

Por este caminho, ver-nos-emos obrigados a tomar sobre nós grandes responsabilidades, as quais, se nos assustarem, nos terão para sempre como escravos. Se em nós descobrimos talento especial para alguma coisa, negócio ou invenção nova, mas carecemos dos meios principais para o seu desenvolvimento, exijamos um ordenado em relação com o nosso trabalho,sem nos deixarmos intimidar por coisa alguma,pois,se desenvolvermos aquele talento, é certo que o negócio irá avante e triunfará. Se nos sentirmos roubados,somos tão culpados como
aquele que nos rouba, se nos submetemos passivamente à sua ação, vendo-nos roubados.

Trabalhar e viver com o medo constante de ir acabar num hospital ou de ir para um manicômio, é o mesmo que estar nele, e nem estando efetivamente lá nos sentimos tão miseráveis e desvalidos.

Viver continuamente com esta receosa apreensão na alma, causa-nos imenso dano ao espírito e ao corpo, porquanto qualquer perturbação que a mente sofra certamente prejudicará também o corpo de uma ou outra forma.

Não trabalhará a nossa inteligência com toda a lucidez e força de que é capaz, enquanto estivermos empolgados pela ansiosa escravidão de um grande medo.

A lucidez de idéias e de propósitos tem um valor que se traduz sempre em dólares e cêntimos. Se vivemos sob o domínio de alguma inteligência fútil e volúvel, se observamos as idéias e os pensamentos de uma inteligência de tal ordem, nós próprios seremos tão frívolos, inúteis e inconstantes, como essa mesma inteligência, pois cada qual comunica, na proporção de suas forças, o seu próprio sentir, a sua disposição mental aos que estão sob as suas ordens ou contato.

Se o chefe ou principal interessado não sabe certamente o que deseja, também os que estão às suas ordens não saberão conhecer ao certo o que desejam ou podem exigir dos outros.

Porque é verdade que, assim como nós influímos naqueles que, de uma ou de outra maneira, dependem de nós, também estes influirão, por sua vez, da mesma forma, sobre aqueles com quem tratam. Se o que estiver à testa de uma organização qualquer, um negócio ou empresa, se mostra indeciso, a indecisão e falta de coragem reinarão sempre em todos os seus domínios. Ninguém pode servir com plena satisfação a uma pessoa que nunca está satisfeita consigo própria.

Se não podemos achar o que realmente de nós se necessita, digamo-lo, mas não nos fatiguemos para servir àqueles que não sabem, eles mesmos, o que precisam de nós.

Nunca abandonemos o nosso plano e, se virmos boa razão para persistir em determinado caminho ou direção, não permitamos, embora se trate de coisas de somenos importância, que ninguém nos dissuada dele.

O reino da mente está cheio de tiranos que aspiram a exercer a sua ação só por amor ao poder, pois muitos não têm sequer a mínima idéia do motivo que os impele a agir.

Em mais ou menos extensão, cada um de nós próprios pode converter-se em um verdadeiro déspota. Para obter simples informações, podemos pedir proveitosamente opinião de muitos, mas, sobre o que nos disser pessoalmente respeito, só devemos pedir conselho a muito poucos, e esses raros devem ser bem escolhidos.

O mais previdente, atento e justo é o que maior cuidado emprega em dar a sua opinião ou lembrar um alvitre, procurando, ainda assim, mostrar que em suas palavras, sempre claras, está expressa apenas a sua opinião, lembrando-nos, contudo, que também podia dar-se o caso de estar em equívoco. O ignorante e vaidoso fala sempre dogmaticamente, dá-nos o seu parecer como infalível, quando, na realidade, só fala segundo o seu sentir de momento. Abstenhamo-nos, pois, de confiar firmemente em tais opiniões, porquanto, se assim o fizéssemos, só observaríamos idéias de presunção, que muito nos prejudicariam, resultando sempre mais benéfico para nós abandonarmo-nos à nossa própria inclinação.

Se nos sentimos superiores e suportarmos tal direção ou influência em qualquer sentido que seja, impossibilitamos de moto próprio o nosso triunfo. Pode o nosso bem-estar ser mais facilmente destruído por esta ordem de elementos intelectuais invisíveis, os quais, por outro lado, tanto podem fazer em nosso favor.

Daquela forma, só conseguiremos despertar e pôr em ação forças que nos são contrárias, em vez de mover as que podiam servir de algum auxílio, supondo bem que estas não trabalharão em nosso favor, vendo transviada a nossa ação. No próprio momento em que permitirmos que o pensamento de outrem exerça em nós a sua influência, em contrário às nossas próprias convicções, intuições e sentimentos, então se obscurece momentaneamente o melhor do nosso espírito, começando desse instante a pensar com o cérebro dessa pessoa, que pode nos ser muito inferior em qualquer ponto que isso se considere. Desta forma, o que realmente teremos feito é apenas obscurecer a nossa lúcida inteligência com uma corrente de idéias mais ou menos turvas.

Está claro que a pessoa que assim logrou dominar-nos tem uma disposição mental semelhante à nossa, e quando,inconscientemente talvez, o nosso cérebro cedeu à influência do seu, ficamos subsequentemente debaixo da sua inteligência, sujeitos a ela em todos os demais aspectos da vida.E, apesar de tudo, o pior é que fechamos o caminho por onde viriam até nós melhores e invisíveis conselheiros, pois a nefanda ação do primeiro terá a comunicação com estes. E não porque voluntariamente tenham deixado de vir, mas é porque a nossa ação sobre eles ficou extraordinariamente diminuída, pois já sabemos que este poder atrativo depende da atitude mental em que nos mantemos a seu respeito. Aquele que desejar conservar a sua própria individualidade e ser sempre, em todas as ocasiões, a sua própria pessoa, peça aos seus amigos invisíveis os melhores e mais sábios conselhos para consegui-lo, esforçando-se veementemente para isso e, por fim, o conseguirá, vendo-se, dessa forma, livre de qualquer influência perniciosa. Os nossos mais elevados e invisíveis amigos ajudar-nos-ão seguramente em nossos bons esforços para conservarmos o predomínio da nossa mentalidade. Eles afastarão, com certeza, toda espécie de obstáculos do nosso caminho, em qualquer campo onde desejamos exercer o nosso esforço e ação. Não poderão, porém, agir em nosso favor enquanto estivermos empolgados pela influência de mentalidade de ordem bastante inferior, dirigindo hoje a nossa ação como amanhã pode ser dirigida por outra.

Sem darmos por isso, sucede que, dominados pelo pensamento alheio, seguimos hoje um plano determinado para abandoná-lo amanhã e seguir novo plano, sem a menor estabilidade nas nossas opiniões. Desta forma, não nos atrevemos a exprimir em um círculo de amigos uma opinião sã ou uma idéia mais ou menos conveniente e arrojada, enquanto formos presos do medo de que só o fato de expendê-la nos pode custar a perda de uma amizade.

E é tempo já de dizer bem alto que seremos presos desse modo e não nos atrevemos a exprimir tal idéia ou opinião, enquanto estivermos dominados pelo estado mental desse amigo, sucedendo, desta forma, darmos mais valor à conservação da amizade do que à proclamação de uma verdade, o que significa que sacrificamos uma verdade ao afeto de uma pessoa. Agindo assim, deixamos de ser livres e independentes. Talvez inconscientemente essa pessoa é, contudo, nossa dominadora, porém, apesar disso, não nos respeitará mais, nem nos estimará mais, pelo fato de vivermos debaixo de seu domínio.Pelo contrário, há na natureza humana um respeito e um amor inerentes pelo homem que sabe manter-se livre e independente.  O medo diminui a força do espírito e produz doenças físicas. O medo está em todas as partes e toma as mais diversas formas  : medo da miséria, medo da opinião  privada, medo da opinião pública, medo da própria consciência, medo de perdermos amanhã o que hoje possuímos, medo da enfermidade e da morte.

O medo tem chegado a converter-se, para muitos milhões de homens, no seu sentimento habitual, achando-se em todas as esferas da vida humana e de todas as partes e continuadamente se dirige para nós, nas emanações.

O medo é um verdadeiro tirano. Faz o amo ser impiedoso, sem misericórdia, e o credor inexorável. "Temo - diz o milionário - que, se não exigir de todos o que me é devido, não poderei satisfazer o desejo de aumentar ainda mais a minha fortuna, e fora dessa idéia nada há no mundo que me dê alegria." "Temo - diz o agente desse milionário - que, se não cumprir as ordens formais do meu chefe e for negligente em receber até a última migalha das suas rendas, seja despedido e não possa mais viver." E isto devido a que o medo do milionário penetrou no seu cérebro, absorvendo continuamente as emanações do homem rico.

Assim irá logo, pressuroso, o agente do milionário cobrar alguma dívida de um impressor, de um homem ou de uma mulher que vivem unicamente do seu trabalho, e será ele quem leve a estes o sentimento de medo, que, por sua vez, colheu do homem rico. E o impressor, o homem e a miseranda mulher ficarão, por seu turno, desassossegados.

Um dia dirá o impressor: "Tenho medo de imprimir esta verdade", e o homem dirá, outro dia: "Tenho medo de dizer isto ou aquilo, pois meus leitores ou meu auditório me abandonarão, e onde hei de achar, então, dinheiro para pagar o aluguel da casa e o necessário à minha subsistência e dos que me são caros?" E todos, assim por diante, pensam o mesmo.

Esta idéia de medo, constituída por uma substância invisível, embora tão real e positiva como qualquer outro elemento da natureza, vai se projetando para fora do cérebro desse homem rico e acaba por invadir todas as classes da sociedade, penetrando em toda parte, desde as trapeiras até aos subterrâneos; nem o próprio ladrão se exime à sua influência, pois diz: "Tenho medo da miséria" e, dizendo isso, mete a mão na algibeira do vizinho e traz de lá todas as moedas que pode. Não há diferença entre o ladrão e o ato desse pensamento dominante. "Tenho medo - diz, às vezes, o que começa a aprender uma arte qualquer - das censuras dos outros, e temo cair no ridículo." O que assim fala está dominado pelo medo dos outros e nunca adiantará em sua aprendizagem, enquanto não abandonar a preocupação do que possam dizer dele. Há, pois, uma enorme vantagem em nos libertarmos quanto antes do cativeiro do medo, que é, neste mundo, uma parte perene de desditas, misérias e enfermidades.

Viver em contínuo temor, em continuo receio, em contínuo medo de alguma coisa, quer se trate da quebra de amizade, da perda de afeições ou simples relação de dinheiro ou de alguma situação proveitosa, é tornar seguramente a seguir com precisão a melhor via para chegar à perda do que tem sido causa do nosso temor.

Pode, acaso, prestar-nos algum auxílio e contribuir para a conquista do nosso bem-estar, o medo que desperta em nós a miséria? Pode ser-nos de alguma ajuda para melhorar a nossa saúde o medo que sentimos da doença? Certamente que não; antes, pelo contrário, tal medo apenas nos serviria para debilitar-nos o corpo e enfraquecer nossos poderes espirituais.

E como nos libertamos do medo e do domínio que podem exercer, sobre a nossa, outras mentalidades que vivem também no reino do medo? - Combatendo mentalmente tudo o que em nós produza medo, começando por conduzir-nos mentalmente como valores e habituando-nos à idéia de valor, como se nos fosse própria.

Aprendamos a encarar e desafiar, no terreno do que chamamos pura imaginação, tudo o que nos possa amedrontar, quer se trate de um homem, de uma mulher, de uma dívida que não podemos pagar ou de qualquer provável catástrofe. O que deste modo a nossa fantasia imagina, opera em nossa mente como se fosse uma realidade, aumentando de um lado positivo nossas energias mentais e espirituais.

Imploremos continuamente ao Infinito Espírito do Bem que nos seja dado um maior valor; imploremo-lo e a qualidade do valor virá para nós, crescendo em nosso ânimo, todos os dias, pois aquilo que nos foi dado uma vez nunca mais havemos de perder.

Fonte : Livro Nossas Forças mentais- Volume I
Páginas: 98 á 104

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