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PATERNALISMO



Vou continuar mergulhado no taoismo, em consulta ao livro de Cristopher Markert, denominado Yin-Yang, para tratar da comparação entre a educação recebida pelas crianças ocidentais e as orientais. 

Nas culturas ocidentais, impregnadas da religião paternalista, será raro se encontrar um equilíbrio sadio entre as influências paternas e as maternas na família. 

Nossa mitologia bíblica também não nos oferece nenhum modelo disso: o pai celeste não tem uma mulher da mesma classe, a Virgem Maria tem apenas um companheiro platônico, e o seu filho também não é casado.

No Oriente, ao contrário, toda a vida gira em torno da família, e no Livro das Mutações, a ordem cósmica é apresentada como uma família constituída por pai, mãe, três filhos e três filhas. 

Nas famílias ocidentais costuma-se valorizar o papel paterno, em detrimento do materno. Essas conotações básicas não se refletem apenas nas orações, como o Padre-Nosso, mas também nas leis e costumes que concedem ao pai inúmeros privilégios injustificados.

Como consequência, sua influência é mais incisiva sobre os filhos do que a materna. A mãe cuida realmente do bem-estar físico das crianças, porém é o pai que assegura um desenvolvimento espiritual, e mais tarde mostra ao filho a seriedade da vida.

Várias tentativas foram feitas no decorrer da história para criar filhos sem a ajuda dos pais. As ditaduras, principalmente, tinham interesse em formar súditos que só fossem comprometidos com o Estado. Além disso, os pais desperdiçariam menos tempo e energia com os seus filhos e poderiam se dedicar mais ao Estado. Isto não foi e nem continua sendo, um privilégio da sociedade ocidental, pois ditadores e cidadãos cruéis existem em todas as regiões do mundo. 

Mas, na sociedade oriental, tais posturas são repudiadas de forma absoluta, enquanto na sociedade ocidental ainda se encontra muita gente que aprova esses comportamentos por considerarem que facilitam a vida dos pais. 

Experiências feitas na Rússia comprovaram que as crianças educadas em internatos do Estado, sem as mães, desenvolvem características anormais. Verificou-se em comunidades americanas que a educação conjunta de crianças não dá bom resultado. Outros estudos e experiências levaram à mesma conclusão: crianças precisam de amor materno, principalmente em seus primeiros anos. 

O caráter de uma pessoa é amplamente determinado pelo seu terceiro ano de vida, e a mãe é o primeiro e mais importante contato humano para um bebê. Os bebês cujas mães fumam ou bebem, por exemplo, em geral são menores, mais nervosos e inquietos. 

Na realidade, o homem ocidental pensa mais no progresso do indivíduo, ao passo que no Oriente a família é o centro de interesse. Na cultura ocidental tende-se a extremos. Ou o pai é considerado exageradamente importante, ou descarta-se totalmente a sua influência. 

No Oriente, ao contrário, há um equilíbrio sadio entre moços e velhos, entre o futuro e o passado. Os pais veem em seus filhos o seu objetivo de vida, e os filhos respeitam os pais e avós. 

Nos países mais industrializados desconhece-se a fome, e cada família está assegurada contra todos os tipos de riscos. E mesmo assim, não se usufrui o bem-estar e a segurança, pois em espírito vivemos ainda no deserto, guardando o medo interior e a agressividade, sem podermos nos sentir à vontade no mundo. 

Convenhamos que crianças precisam da influência de ambos os pais, e um filho não deveria ser dominado nem pelo pai, nem pela mãe. Deve haver um equilíbrio entre o amor da mãe, que a todos abrange, e o amor do pai. Diante de seus filhos, o papel do pai deve ser o de dar apoio e dirigir. Por outro lado, os filhos buscam no pai uma pessoa experiente que saiba lidar com o ambiente, mesmo que, à vezes, seja o mais perigoso. 

Quando o pai quer ser apenas um bom amigo dos seus filhos, deixando a disciplina e a direção a cargo da mãe, toda a família sofre. Cada criança é um ser humano, e não deve ser considerada como propriedade ou um ser subalterno. A meta de toda educação é o incentivo e a ajuda, e não a repressão e o castigo. 

Desde o momento do nascimento, os filhos se empenham lentamente em conseguir a liberação de seus pais, até finalmente se tornarem adultos e independentes. Esse é um desenvolvimento que se dá passo a passo, de dentro para fora, do mundo da mãe ao mundo do pai, em direção à independência no mundo material.

A função dos pais, portanto, não é apenas a de proteger o filho, porém de conduzi-lo rumo à sua independência. Crianças mimadas e protegidas em demasia não podem deixar de se tornar uma carga para os outros e para si próprias, tanto quanto aquelas que recebem muito pouco amor e que são empurradas muito cedo para fora do ninho. 

O escritor inglês J. B. Priestley apontou para o fato de a mulher moderna liberada estar, em vários sentidos, mais à mercê do sistema masculino do que a não liberada, como se observa em algumas culturas orientais. De fato, o mundo está aberto para ela, porém trata-se de um mundo yang, com regras masculinas nas quais ela é forçada a se enquadrar. 

De um modo geral, se ela quer atingir algo nessa sociedade orientada pelo homem, ela precisa expor extensamente suas características masculinas, mostrando agressividade e força. Para obter influência, ela precisa reprimir em parte a sua verdadeira natureza e os seus sentimentos femininos mais sensíveis. Ou se preferir, pôr as mãos à obra e abrir caminho contra tudo e contra todos, usando de toda a sua intuição yin e fazer-se vivível e indispensável à cultura do ambiente em que vive. 

Na cultura ocidental, as pessoas acreditam que tudo que é bom vem de cima. Crescem acreditando que a vida é uma eterna luta entre o espírito e a matéria, e que as pessoas honestas lutam do lado do espírito contra a matéria ou o materialismo. As pessoas más são condenadas a ir para baixo da terra, depois da morte, para o inferno, enquanto os bons vão para cima, para o céu. 

Agora como antes, e como sempre foi, trata-se de encontrar o equilíbrio perfeito entre o que está em cima e o que está em baixo. 

Gilberto Gonçalves 

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