O conceito taoista da natureza do universo é, ao mesmo tempo, de tal modo sublime e tão extraordinariamente moderno que os físicos atuais somente há pouco tempo começaram a aceitar o mesmo princípio geral.
Nesta concepção, não há lugar para a ideia de uma divindade-criadora onipotente separada de sua criação. A crença em Deus cede lugar para uma reverência pela majestade e mistério do próprio cosmos.
O Grane Lao-Tzé, em sua obra Tao Te Ching, escrito há dois milênios e meio, afirma que aquele que fala do Tao não conhece; aquele que conhece, não fala.
O sagrado princípio criativo não é um ser que deva ser amado ou aplacado com hinos e sacrifícios, mas um estado do ser que se manifesta por todo o cosmos e não existe separado de nada, uma vez que é a própria essência de tudo o que existe.
O sublime Tao é aquilo que existe bem na frente de nossos olhos. Longe de estarmos separados dele – assim como as almas separadas de Deus , segundo a teologia cristã – nós somos permeados por ele, e partilhamos de seu próprio ser.
O fato de a maioria de nós experimentarmos uma sensação de solidão, de separação, tanto da realidade mais elevada como de todos os seres e objetos à nossa volta, deve-se a uma falsa compreensão e a uma imperfeita percepção dos sentidos, que nos leva a pensar em termos de "Eu sou eu; o outro é o outro."
Pessoas de formação cristã ou judia inclinam-se a pensar que a ausência de crença numa divindade onipotente implica necessariamente numa aceitação de uma doutrina materialista. Isso, no entanto, é um grande erro.
Um taoista talvez ficasse mais satisfeito, se você o descrevesse como um seguidor da doutrina de que a matéria é essencialmente espírito.
O Tao é o Caminho, mas é também a Fonte, a Viagem, o Viajante e o Objetivo. Um homem, seus companheiros, todos os seres sensíveis, seu meio ambiente e todo o cosmos estão inextricavelmente ligados.
O homem não é o senhor do universo; ele está condenado a morrer se atacar por muito tempo a natureza. No taoismo não há lugar para a arrogância.
O Tao intangível manifesta a si próprio como um cosmos que contém miríades de forma mutáveis, através do princípio da polaridade, a interação das forças polares yin e yang.
Yin que originalmente expressa o lado sem sol da montanha, significa o aspecto receptivo dos fenômenos; yang, o lado ensolarado da montanha, significa o seu aspecto dinâmico. Não são opostos, mas duas faces de uma mesma moeda, pois um não pode existir sem o outro. Não pode haver luz, sem trevas, dinamismo sem calma, mais sem menos, o não-fazer sem o feito.
Não se deve supor que o yin seja inferior ao yang. Não pode haver procriação sem a fêmea, montes sem vales, o nascer das flores sem a secagem. O yang contém a semente do yin, o puro yin contém a semente do yang.
Quando o yin e o yang se desintegram, todos esses fenômenos de desarmonizam; e com o reinício se sua interação harmoniosa, um novo ser passa a ter existência.
O único fator imutável no cosmo é a própria mudança. Nada permanece o mesmo nem por um instante, mas isso de modo algum resulta num estado caótico de fluxo incontrolado.
O Tao não tem interesse pela ascensão ou queda de indivíduos, mas pelo progresso tranquilo e sem esforço de suas transformações, pelo bem-estar do todo.
Gilberto Gonçalves
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